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Maria Santíssima
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19/05/2012
Maria é Mãe de Deus em sentido verdadeiro e próprio (Dogma de fé) - Texto II
BARTMAN, Bernardo “Teologia Dogmática” Vol. II




BARTMAN, Bernardo “Teologia Dogmática” Vol. II

                                                                                            (Texto I - "A Mãe do Redentor")
Explicação - O Concílio de Éfeso (431) defendeu esta verdade contra Nestório, que reduzia Maria a mãe de um homem (au-qrwpotoxsz xriotsxsz) e definiu Maria como a Mãe de Deus (qeo-toxoz) “Quem não crê que Emanuel é verdadeiro Deus, e, por conseguinte, nega que Maria é a mãe de Deus... seja excomungado” (Denz.113). O Concílio de Calcedônia (451) e o terceiro Concílio de Constantinopla (608-681), repetiram esta doutrina; o último, aliás reforçou-a afirmando que Maria é verdadeiramente (veraciter, xata alhqeiau) e propriamente (proprie, xuriwj) Aquela que gerou a Deus (Denz.148-290). Este dogma contém uma dupla verdade: Maria verdadeiramente gerou e por conseguinte é verdadeiramente mãe, como todas as mães, em força da concepção e da geração; ela gerou em sentido próprio, a Deus, o Logos, a segunda Pessoa da Divindade, e não, portanto, uma natureza humana sem subsistência ou muito menos uma natureza humana subsiste em si mesma.
Prova - Para indicar as relações de Maria com Cristo, a Escritura recorre a expressões naturais e não à terminologia dogmática dos Concílios. Mas na sua maternidade, como é apresentada em diversas passagens da Escritura, está incluída a maternidade divina; pois que, aquilo pelo qual Maria foi Mãe, é precisamente aquilo pelo qual ela foi Mãe de Deus. Ora, a sua maternidade é narrada pela Escritura de modo bem realista, longe de todo o docetismo ou gnosticismo. Isaías: “Eis uma virgem conceberá e dará à luz um Filho , seu nome será Emanuel, isto é, Deus conosco”(7,14). Gabriel: “Tu conceberás em teu seio e gerarás um Filho e o chamarás Jesus”Lc 1,13). “O Ser santo que nascerá de ti será chamado Filho de Deus” Lc 1,35).Assim, portanto, Maria é Mãe, Mãe do Filho de Deus, Mãe de Deus. “Mãe do meu Senhor”, chama-a Isabel (Lc.143). Se no Evangelho Maria é chamada ordinariamente “Mãe de Jesus” (Mt 1,18; 13,55; Mc 3,31-32; 6,3; Lc 2,33.48; Jo 2,1; 19,26) ou simplesmente “sua Mãe”, é preciso entender estas expressões no sentido comum e humano e histórico, e não em sentido estritamente dogmático.
O fato, de resto, surpreendente, de que Jesus jamais chame Maria como o nome de Mãe”, mas simplesmente “Mulher” (Jo 2,4; 19,26), não prova absolutamente que Ele lhe negue a qualidade de Mãe (Mt 12,48), como queriam os Docetas; significa somente que Ele não entendia, por profundas razões pedagógicas, debilitar sua sublime missão, com considerações de parentela.
Os Apóstolos deviam usar da mesma prudência pedagógica; mas já na narração da preparação jovem Igreja à vinda do Espírito, transparece a importância de Maria, como Mãe de Deus (At 1,14). Segundo São Paulo, Deus mandou para nossa Redenção, seu Filho nascida de Mulher (Gal 4,4). Assim, portanto, o Filho de Deus nasceu de mulher, e por conseguinte, essa mulher é a Geratriz ou Mãe do Filho de Deus. Ele é o Filho de Deus “nascido segundo a carne da progênie de Davi” (Rom 1,3)..
Os Padres - O termo “Mãe de Deus” aparece em Alexandria nos tempos de Orígenes ( 254),que talvez o usou por primeiro, mas a ideia encontra-se no Símbolo dos Apóstolos: “Creio em Jesus Cristo, seu Filho único, nosso Senhor... nascido de Maria Virgem”.
Os Padres antignósticos, Santo Inácio (Smirn. 1,1; Ef 7,2), Santo Irineu (Adv. H. 3,19,3; 3,16, 5; 3, 22, 1 ss.; Tertuliano (De carne Christi), insistem sobre o verdadeiro nascimento do Logos eterno, no seio de Maria Virgem, para combater o docetismo gnóstico, que falava de uma simples passagem irreal através da Mãe eterna. O termo qeotoxsz Já está em germe em Santo Inácio: “Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu de Maria” (Ef 18,2). Ao príncipe deste mundo ficou oculta a Virgindade de Maria, seu parto e a morte do senhor: três mistérios estrepitosos que Deus operou em silêncio (Ef 19,1). São Justino afirma que os setenta tinham razão de traduzir almãh por parqeuoz em Is 7,14 e vê o parto virginal em todos os textos possíveis do Antigo Testamento (Apc 1,22; Dial 48,50, 57, 57 ss.,75, 80, 84). O termo qeotoxsz encontra-se objetivamente na Apol. 2,6: “O Logos foi gerado... como homem”. Santo Irineu prova com Is 7,14 “que Cristo,o qual como Verbo estava junto do Pai, tomou um corpo e tornou-se homem, submetendo-se à lei do nascimento, foi dado à luz por uma virgem” Epideix. 53).”Antes de sentir as angústias ela deu à luz, e deu à luz um filho antes de sentir dor (Is 56,7). Estas palavras significam o seu nascimento de uma Virgem (Epidex.54). Clemente de Alexandria escreve: “Uno é o Pai de todos, uno também o Verbo de todos, também o Espírito Santo é uno e o mesmo por toda parte, e uma só virgem torna-se mãe. Agrada-me chamá-la Igreja” (Ped 1,6). É claro que fala da Virgem Maria. Depois, segundo o seu método alegórico vê nela uma figura da Igreja. Tertuliano afirma que o Cristo não nasceu, como pretendiam os gnósticos “per Virginem” ou “in Virgine”, mas “ex Virgine” (De Carne Christi, 20). Hipólito, contemporâneo de Tertuliano expõe muitas vezes nos seus numerosos trabalhos exegéticos, autênticas verdades de mariologia. Em uma passagem escreve: “O Senhor foi formado, segundo a humanidade, sem pecado, de maneira incorruptível, isto é, por meio da Virgem e do Espírito Santo, e revestido exterior e interiormente de ouro mais puro do Logos divino”. Encontramos aqui em germe a Imaculada Conceição. Orígenes: “Quem não admite o nascimento de Cristo da Virgem Maria e do Espírito Santo, mas afirma que nasceu de José e e de Maria, não tem o que é mais necessário para a profissão da fé”. In Jo 32, 16; ctr C.Cels. 6,61). É coisa evidente que a definição dos Concílios de Nicéia e de Éfeso aumentou a importância de Maria, enquanto Mãe de Cristo, e que de ora em diante se insista muito sobre o qeotoxsz. Quando São Cirilo, contra Nestóroio, apenava à tradição, tinha objetivamente razão embora o titulo formal de qeotoxsz apareça, de modo certo, somente depois de 250. Podemos encontrar numerosos testemunhos disso em Petávio (De Incarn. Verbi, 5, 15 -19). Para Santo Atanásio, o Filho de Deus tornou-se homem, enquanto tomou carne de “Virgem Mãe de Deus” (exparqeuouthj qeotoxsz Orat. 3, Arian. 29) São Gregório Nazianzeno, entre os Capadócios, é quem mais se interessa pela mariologia; escreve ele: “Quem não admite a Mãe de Deus (qeotoxou))) está separada de Deus”. (Ep 101 ad Cled.,1,Migne 37,178).
A razão teológica está no fato de que Maria não gerou uma natureza abstrata, sem substância, mas uma pessoa concreta, Jesus Cristo, o Homem-Deus. Certamente não se pode dizer que dela nasceu a divindade, a divina natureza e a divina pessoa; nem mesmo que ela seja a causa, da união desta natureza divina; mas a humanidade formada por ela e não do nada,esteve, desde o seu primeiro instante de vida, unida ao Logos, o o Logos enquanto possuidor de uma natureza humana nasceu de Maria. Já São João Damasceno tinha explicado assim o dogma: “Nós dizemos que Deus  nasceu de Maria, não no sentido que a divindade do Verbo dependia de Maria, mas no sentido de que o Verbo, o qual fora e antes do tempo nasceu do Pai e é eterno como o Pai e o Espírito, na plenitude dos tempos viveu no seio, para nossa salvação e sem mudança, tomou carne e nasceu dela. A Virgem não gerou simplesmente um homem, mas um verdadeiro Deus, Deus não sem carne, mas feito carne” (De fide Orth. 3, 12).
Com estas determinações precisas, eram rejeitadas as insensatas objeções de Nestório que fazia remontar o título de Mãe de Deus à mitologia, como, de resto, se faz ainda hoje na polêmica antimariana. Ele gritava: “Deus, portanto, tem uma mãe? Então não condenemos a mitologia grega que atribui uma mãe aos deuses! Como pode gerar Aquele que vivia antes dela? Nemo anteriorem se parit”. O título de Mãe de Deus é consequência da união hipostática e da comunicação dos idiomas que dela deriva. O Dogma não tem nada em comum com a mitologia pagã sobre o nascimento dos deuses, não obstante todos os esforços feitos pelos racionalistas para desacreditar a maternidade divina, fazendo derivar daquelas teogonias. Bartmann, Dogma und Religiongeschichte, pp 56-58.
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BARTMAN, Bernardo “Teologia Dogmática” Vol. II, Ed. Paulinas. São Paulo, 1964. pp.174 e 177.
                                           (ver próxima publicação: “Consequências da Maternidade divina”



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